Suporte

Parecer referente a comparativo de câmeras termográficas

A ABRATERM zela pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente. A publicidade médica deve obedecer exclusivamente a princípios éticos de orientação educativa, não sendo comparável à publicidade de produtos e práticas meramente comerciais. Portanto, é contrária a indução de confusão, anúncio de propaganda antiética de qualquer natureza e de matérias desprovidas de base científica ou com sensacionalismo tampouco vinculação pública de informações que causem intranquilidade à sociedade.

Recentemente vários membros associados consultaram a ABRATERM devido a um vídeo de alarde vinculado na internet e redes sociais referente a comparativo de câmeras termográficas preocupados por ser propaganda antiética e produzida por quem não tem autoridade em Ciências da Computação, Engenharia Elétrica-Eletrônica ou Mecânica, tampouco qualificado como titular em Termografia Médica ou Especialidade Médica.

O vídeo cita 3 categorias de sensores infravermelhos portáteis, um de bolso, um para mobile e um de alta performance. E alerta para diagnóstico médico apenas o modelo para mobile e o de alta performance e ao final diz não vender câmeras, mas ensinar na prática como escolher um equipamento.

Este vídeo foi analisando por uma equipe de membros qualificados da ABRATERM, entre eles especialistas médicos e engenheiros, que identificaram várias incongruidades que foram discutidas e corrigidas abaixo neste parecer oficial:

  1. Estas câmeras não têm finalidade de diagnóstico isolado ou definitivo, elas não dão laudo e nem substituem o julgamento clínico do médico e demais profissionais da saúde e nem outros exames complementares que se façam necessários. Servem apenas como documentação clínica e registro para pesquisa. Seus resultados devem ser interpretados pelo próprio avaliador, devidamente treinado, juntamente com demais dados clínicos, e não sozinho, pelo aparelho. Não é o aparelho que faz diagnóstico por si só. Portanto, é errado dizer que um aparelho “visualiza patologias”.
  2. As duas câmeras de menor resolução possuem de fábrica o mesmo tamanho de sensor e a mesma sensibilidade de 100mK de NETD. É importante ressaltar que o item resolução de imagem não é o único atributo que define a qualidade de uma imagem. Existem pelo menos 10 outros atributos básicos. Um deles, o modo multiespectral. E, desta forma, não pode ser utilizado como critério único de equiparação.
  3. As câmeras de bolso utilizam a resolução da imagem visual fotográfica, que é muitas vezes superior à resolução térmica, para melhorar o contraste e definição final, resultando em imagens multiespectrais, que permitem identificar com precisão a parte do corpo que está sendo avaliada e seus limites, motivo para o qual elas foram desenvolvidas. Não é indicado, portanto, o uso destas câmeras sem o modo de visualização multiespectral, como foi mostrado impropriamente no referido vídeo.
  4. As câmeras de bolso não fazem transmissão de vídeo com Wi-Fi, somente são capazes com cabo USB. Mesmo para as de alta performance é sempre aconselhável com cabo USB.
  5. Qualquer estudo válido de Termologia, especialmente em se tratando de um teste de comparação de imagens entre equipamentos, exige um mínimo de rigor científico, e não pode ser feito de qualquer maneira, sem informar as condições de preparo e ambiente. A apresentação das imagens deve seguir o mínimo recomendado para boa prática da Termologia. Porém, nas imagens apresentadas no referido vídeo, o intervalo de distribuição de cores das temperaturas não é o mesmo. Apesar de ser as mesmas cores, a distribuição de cores não está na mesma equalização, o que induz o espectador a achar que são diferentes. Ficando pior a anedótica situação quando o apresentador tenta sem êxito ajustar as mesmas.
  6. A resolução leva em conta o tamanho da imagem (altura e largura) e é expressa pela quantidade de informação contida. Sim, é esperado que um aparelho de alta performance tenha maior informação por área do que um de bolso. Portanto, um ponto na imagem de um aparelho de bolso corresponde a uma área maior do que a vista em um aparelho de alta performance. Mas se a área for corrigida, isto é, se medir a temperatura da mesma área, o valor deverá ser o mesmo! Os aparelhos vêm obrigatoriamente com certificado de calibração de fábrica rigorosamente aprovada para sua especificação e comercialização, para medir com precisão a temperatura. E além disso, na prática da Termologia, não se preconiza medir pontos e sim áreas que vão refletir melhor o comportamento termobiológico do que um ponto. Bem como, fazer nestes casos imagens mais próximas. Os aparelhos devem ser utilizados no modo multiespectral, para certificar que ambas as imagens estão no foco. Desta forma, não é correto afirmar que um aparelho de bolso mede errado a temperatura.
  7. Deve-se dar preferência ao equipamento de bolso conectado ao computador que é dedicado exclusivamente a termografia ao invés do uso de equipamento mobile durante consulta, que é vedado pelo conselho de classe. É inadequado, perigoso e antiético o uso de qualquer meio de comunicação, em especial celulares, smartphones ou tablets concomitantemente a qualquer ato médico, em particular a consulta médica. O paciente que se sentir lesado pelo uso de celular durante consulta pode denunciar o profissional.

Fica claro, portanto, que o narrador desconhece estes fatos de Termologia Médica Básica, Física e Óptica, e especialmente Ético-Legais e, portanto, não tem autoridade para emitir opinião confiável a respeito, tampouco ensinar profissionais da saúde como escolher um equipamento para este fim.

Ressaltamos desta forma que, no Brasil, os termologistas são oficialmente representados pela Associação Brasileira de Termologia Médica (ABRATERM) que tem apoio das comissões de Termografia Pericial da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM), Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR) e Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Assim sendo, recomenda-se ao médico e demais profissionais de saúde que iniciam na área de Termologia e Termografia que procurem treinamento adequado e oficial, certificado pelo selo da ABRATERM, e sejam posteriormente afiliados por meio de aprovação como membro titular em exame específico de classe. Evitando, portanto, grupos de interesse exclusivamente comerciais e não qualificados que passam informações incorretas e colocam em risco a boa prática médica.

 

Referencia:

  1. Neves EB, Brioschi ML. Is it possible to use low-cost Infrared Cameras (thermal resolution of 80×60 pixels) in medical applications? v. 4 (2017): PAJMT
  2. Brioschi ML, Balbinot LF, Neto CD. Termografia: Responsabilidade Profissional e Publicidade. v. 3 (2017): PAJMT
  3. C.C. Morais, J.V.C. Vargas, G.G. Reisemberger, F.N.P. Freitas, S.H. Oliari, M.L. Brioschi, M.H. Louveira, C. Spautz, F.G. Dias, P. Gasperin Jr., V.M. Budel, R.A.G. Cordeiro, A.P.P. Schittini, C.D. Neto. An infrared image based methodology for breast lesions screening Infrared Physics & Technology, Volume 76, May 2016, Pages 710-721.
  4. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE SÃO PAULO (CREMESP).  É inadequado, perigoso e antiético o uso de qualquer meio de comunicação, em especial celulares, smartphones ou tablets concomitantemente a qualquer ato médico, em particular a consulta médica. Parecer nº 143694 de 04 de abril de 2017 . São Paulo.